Thursday, June 28, 2007

falácias numa cabana


Meu coração acerca-se dos teus cumes como de uma taça por onde a imperatriz bebe em silêncio – mas dispensa das adulações a fecunda flatulência.

Esta alquimia severa engendra monstros que não os da razão ou da sua mingua – o amor pasta a sua loucura como uma negra criatura invectivando cornudamente contra tudo. Preferias os açucares e as molenguices e todos os gestos sensíveis, mas esta ferocidade indegere o mundo, e pouco se lhe pode fazer.

O palácio do palato sabe que provar-te é venenoso, e que a tua boca não é um copo, mas uma silênciosa degradação das invulnerabilidades – és inescrutável, e sabes que a perfeição é a soma das impurezas sem que te apercebas do demoniaco fel.

Constrois, como o castor, a tua cabana como uma beleza pessoal, e o crítico afia os dentes como uma moto-serra – mas são as inclemências do tempo, ou a ironia das gerações que levarão tuas moradias destroçadas – ninguém recordará os contornos bizarros que deste a requintados sentimentos ou a brutais relações – serás impessoal ainda antes do tempo.

As mentes só se podem amar em dissimulação – a comunhão dá-se como um incidente teatral que desfaz circunstancialmente desimpedimentos – dizes que a ofensa e a desonra terão papel predominante nos actos finais porque as comédias são a vida demasiado concertada, mas o desfecho da peça será sempre uma surpresa.

Por mais que o trágico e o tempestuoso se insinuem, com suas palavras carregadas e tentaculares, sinto que quer nós quer a natureza, nos seus grandessíssimos efeitos, somos algo de tolo e falta-nos as arte de dar um sentido sublime ou um qualquer desfecho à vida de à mortalidade – é esta abertura cómica, esta incipiência amorosa que nos deixam cómicamente aventurosos, sem saber para onde ir, acompanhados desconcertadamente de nós próprios.

Fulminante falácia à qual sobra demasiado efeito.

O amor como alterne de estranhesas.

Sou tórrida nos erros, desvios, maningâncias, desamores, distânciamentos, palavras compridas, considerações incertas – e aceito os sisudos julgamentos sem cinismo, e com a tranquilidade de quem passa, com esmero, roupa a ferro.

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