Tuesday, June 12, 2007

bombas e canela


Assim frequentemente me invocou a Musa, como se eu fora em seu socorro. Mas os bombeiros chegaram primeiro.

A memória é a citação de uma série de prudências que ficam como uma montagem de imagens na nossa «cabeça» - a memória sobra-nos como desejos desperdiçados em aguardar algo. Lembro-me do que ficou por acontecer. E se acontecesse...

Desperdiçamos as côres, e em particular a branquidão falsa que se fez passar por grega.

Examinamos os pensamentos para pôr conhecimento novo, ou com este lavar o que nos é mente – mas não é por isso que rejenuvescemos ou regressamos a criança, como uma tábua rasa que não é tábua, nem é rasa, e muito menos infantilmente pura.

O livro sabe melhor com um pouco de sal – o leitor enriquece temperando as leituras com a sua imanência.

O que é que Avicena terá lido em Aristóteles? A Metafísica como muita canela?

Os versos auxiliam-nos muito depois de escritos – quando nos estrangeiramos e as ângustias do mundo vêm, como piranhas, devorar as últimas esperanças.

É a mudez que faz a instrução dos olhos, ao mesmo tempo que lhes dispersa as vontades.

Adicionamos um duplo à nossa consciência porque é sempre agradável saber que algo nos duplica, mesmo como sombra ou ignorância.

O teu orgulho orgulha-me. A tua influência fluência-me.

Compilo, não num estilo emendado, mas porque uma giboia interna antologia fragmentos de uma graça que todos julgamos antiga mas que é tua.

Avanço até onde sobe o sabor do mosto. Páro. Sinto a influência ébria das tuas maneiras, e como, com elas contrastado, me sinto rude. O que era antes era ignorância sem candura.

Solidifico-me na solidão. Humedeço as palavras antes de as escrever – sinto a lingua provando a boca no que hesita, e esse silêncio palrado que é o das palavras procurarem ordem e sentido, ao mesmo tempo que buscam alguma desordem e sentidos para lá do sentido que andam semi-cegamente a adivinhar.

Cedo aos doces argumentos e revolto-me com repróbos – o poeta engana-nos, porque a doçura dos seus versos é a reprovação das nossas (e da sua?) passividade.

O seu porte já não comporta este comportamento.

A beleza é o que nos morde – desengana-te, amigo, se a imaginas como plasticina que dá prazer aos fantasmas da tua atenção.

Nada mais embaraçoso que o elogiu. Com ele seduzirás, não pela bajulação que dá trela ao amor próprio, mas pela fragilização imediata da consciencia, no que ela a si diz e no que ela aos outros atende.

Agracie-se – é melhor pagamento que os agradecimentos.

Largo hipérboles como bombas que talvez algo banhem. Mas sei que as hipérboles, tal como o bombismo, só revelam a fraqueza de uma condição cuja incerteza e fragilidade levam a espampanear.

O discurso torna mais fofo o divã – abre a cama... e fecha a fama.

O prazer é em boa parte humilhação, não no quanto há de humilhável (sado-masoquisticamente?), mas na condição fértil de ser de orgulhos despido... e porque sêr húmus é já humedecimento.

Erros são afundamentos que nos fundamentalmente nos fundamentam.

Este sentimento de disturbio interno é algo mais antigo que animalidade. Não se salva porém com o sabor de se sentir arcaico. Doravante não sabemos o que fazer às nossas intencionalidades.

No comments: