Monday, July 30, 2007

a vida da Rosa Davida e par aí fora



  1. Criada entre criadas, davidei-me nas iguarias que se me foram oferecendo. Fiz-me moça muito almoçando e robusteci as minhas formas sem chegar a gordura para além de fermosura. Perdi muitas oportunidades de especialidades que pudera cultivar. Bailei muito i. E mais bailei muito i enquanto os outros e as outras arengavam seus labores nas praças.

  2. Iam-se os dias para diários, limpavam-se e desossavam-se na escrita, ficando límpidos, nítidos e gregos à sua maneira, se bem que esta maneira grega fosse praticavel e pouco auroral.

  3. Aprendi a conviver com os meus membros e registei os esbracejamentes como calamidades passadas. Admirava a gestualidade musculada da Calamity Jane na interpretação da Doris Day, mas não punha em causa o meu talento conformado pelo ponto-cruz, embora me entediasse de morte nas tardes em que as tias solteiras me obrigavam a tapetes-d'arraiolar.

  4. Era boazinha, um bocadito boazuda, forte de espirito, recatada quanto baste, dada a inocentes gargalhadas insolentes e comentários estapafurdios aos pequenos-almoços, e bocejos pouco depois dos jantares. Não dei aso a preocupações, mas dei asas a secretas ocupações.

  5. Falava e até gritava com os meus botões. Queria-me artista desde logo, antes inda das insolências das adolescências. Pintava (ou garatujava) sobre os cromos dos asnos dos meus irmãos que se beijavam uns aos outros em longos linguados. Eu preferia patas de peluches. Ai deus i u é.

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