Monday, July 30, 2007

almada, os outros, as outras, com, contra e etc.



chega a ser pirosíssimo no que pinta o Almada Negreiros, mas também dá ares de ascetismo, de não querer ter haver com pieguices nas numeralogias e coisas afins - citar-lhes-iamos os textos coleccionados pelo Herberto na sua antologia, se bem que sejemos um tanto ou quanto discordantes quanto à sua política da poética - supostamente clássica. A autenticidade heideggariana equivale-se-lhe a ingenuidade, o que ao fim e ao cabo vem a dar em salazarismo doce, o mais ameno possível. E até o romance Nome de Guerra sobre os incovenientes das paixões assolapadas pelas varoas fatais tem esse funesto final com a preferencia das estrelas à vida em versão desculpa. Também podemos conversar com estrelas, nascer para vidas sempre novas e não desistirmos das complexidades e dos dramas que o amor nos oferece terrivelmente e que nos espertizam e saloiam se for preciso. Almada começou nietzschiano, embora com cenas de òdio, e acabou profeta dos bimilénios a queixar-se que não no entendiam. Mas o pater familia com a mulher a lavar pratos e a mudar o cócózinho dos putos é a sua imagem emblemática. A casa portugueza de Lino, a familia portuguesa de Almada. Ai portugueses e portuguesas muito salazararam os nossos progenitores sem perceberem como se livrarem disso e continuarwem a culpar o homem, tímido, recatado, que eles também o soiam ser. Foi o tempo do fado e da «dona Amalia», fado que nunca mais poderá ter uma migalha de ingenuidade ou autenticidade do que era o tal fadismo. Mas pode ter outras coisas mais canalhas, mais inteligentes, mais espertas e muito menos saloias.


No entanto o Almada é pai deste estilo oral de que não nos safamos, e a sua Engomadeira ou o K4 são as mães da possibilidade de nos prosarmos poéticamente à quase um século, e generosamente - penso no Nuno Bragança, na Maria Velho da Costa, no Alvaro Lapa


há uma oralidade pitoresca em outros, e também os regionalismos do Aquilino Ribeiro e as falas meigas do eça, mas Almada fez aqui o que Guimarães Rosa fará mais tarde para a outra literatura portuguesa - pôs-nos a falar com as nossas ralações e colocou o narrador vulnerável e desajeitado à cata de si mesmo


o Nuno Bragança, que é maravilhoso no ínicio da Noite e o Riso sofre com o estilo copófonico do tio Hemingway, e o ar duro de quem tem estilo, intimidade e saber, e de que a vida tem que nos dar porrada e nos levantarmo-nos do tapete para a porrada que vem - o homem que sabe e não sabe mas finge que sabe, que leva nas trombas, mas que não perde o ar, e, sobretudo o estilo, de quem sabe


o Nuno Bragança é um desconhecido do Álvaro de Campos, é o homem que se conhece levando porrada - isto está mais repetitivo quase que a Stein


e depois há a Maria Velho da Costa, tão suserana das suas manias algo pseudo-inglesas, mariquices de menina fina a fingir-se compincha da criada e de quem está com o povo e algumas vezes com Moscovo e de que sabe o seu shakespeare


o Álvaro Lapa, coitado, não chegou a carreira literária, publicando ao lado das pinturas, ao lado do alcolismo, mas sempre com esse ar de quem mija prosa e de que mijar prosa dá algumas alegrias que nos livram, beatnickamente, dos salazarismos literários que é o estarnos sempre a limar as unhas da poética com censorismo horaciano - até o Herberto e o descarado do Cezarinny se afadigaram no postumismo, a queimar, a afinar, a ter medo que venham a dizer mal muito depois


há alguma razão no M.S. Lourenço quando fala dos mestres que ficam a afinar anos antes de publicar e cita o Wittegenstein, homem de um só livro em busca de um pelo menos segundo livro, mallarmeano e filosofal, mas que deixa, sem querer, como o Aristóteles, uma obra vasta, nesse drama eterno que são os impublicados, de Pessoa a Kafka, e que são bons para entreter controvérsias filológicas e outras mariquices - o mesmo diz o Herberto a partir do Edmundo Bettencourt, como o glorioso escrupulismo mas eu diria com a neurose de quem se olha demasiada na obra que é um bico-de-obra da variante que teme que lhe cheirem no cú alguma mediocridade ocasional que todos, mesmo os sublimes, a têm


falamos destes nomes, nomes amigos, aqueles que, citando o Lapa entrevistado pelo Silva Melo (que não gosta, com alguma razão, do Almada), com quem vamos e (dizemos nós com se calhar outras e outros) contra quem vamos ao mesmo tempo - não podia deixar de ser de outro modo. Com contra e contra com. E com despacho. Etc.


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