Saturday, August 26, 2006

Vasco & Vasco


O Vasco Pulido Valente, o homem mais malcriado que jamais conhecemos, publicou no domingo passado uma coluninha sobre a geração de 60. Eu (Sandra) sou filha da geração de 60. E eu (Sónia) sou filha da geração de 70, a do companheiro Vasco (Gonçalves). Escrevia o Valente Vasco a propósito do Bill Clinton e dos 60 anos dos baby boomers. A Sandra conheceu toda essa geração (a nossa) que passou do catolicismo liberal (e tão puro) para uma doce popização com Orientalismo ao fundo (a Beatlomania, derivados, sucedâneos e sucessores). Consigo imaginar o Vasco Pulido Valente a ouvir Lucy in the Sky With Diamonds e beijando a Maria Cabral, a actriz-promessa dessa geração. Era bem gira a Maria Cabral. E simpática. Voltei a vê-la em Paris, já com outros olhos passeando com um filho oriental num local onde «a terra os há-de comer» em 1985 (no Pêre-Lachaise). Nada de cinemas e muita mediatação.

Não sei se preferimos o destino profundamente rabugento do Vasco com garrafa de whiskye ao lado se os desmaselados trejeitos budistas da Maria. Os da geração de 60, a dos nossos pais e das nossas mães, enfrentam agora a incontornável sombra da morte, por mais que possam viver, excepcionalmente, mais uns 20 ou 30 anos. Por isso Vasco (o Valente) consegue ser lírico e falar da revolução desta geração «(a única e a verdadeira) e o extraordinário alívio e alegria que veio com ela. (...) A geração de 60 inventou o sexo. Num mundo de hard-core não se consegue provavelmente explicar, nem sequer invocar, o peso, a culpa, o mistério do sexo e como o sexo estreitava, torcia e coibia a vida da adolescência à morte. Se um novo homem nasceu, nasceu nessa altura. E principalmente uma nova mulher. Não existiam regras para esse território ignorado e ambíguo; e o que sucedeu nem sempre se distingue do egoísmo, da loiucura, do caos. De qualquer maneira, ficou a liberdade e um irrenunciável sentimento de soberania pessoal. O que não é pouco.»

Filhos e filhas desta geração acho que herdamos parte desta revolução (e sentimento de soberania pessoal) que em parte acompanhamos com olhos de criança, tal como os da geração da Sónia assistiram aos vendavais revolucionários com a mais parcial das inocências. O livro que mostra a nú esta geração é «A Noite e o Riso» do Nuno Bragança. A Maria Velho da Costa, que a certa altura com ele partilhou vida amorosa, é mais emblemática das contradições líricas da geração do Vasco (camarada). Sobretudo no não reeditado «Da Rosa Fixa» no qual nos inspiramos para o nosso Orquideias Atópicas.

Se formos honestas entendemos que os anos 60 e 70 foram o fim de muitas coisas e o nosso principio. As outras gerações já não podem sonhar com a abertura porque esta acabou por se revelar «existencialmente» (ó palavrão! ò cliché!) o «sufoco» das velocidades globalizantes.

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