Saturday, August 12, 2006


Gostamos de coisas que se degradam. Somos ambas bio-degradáveis e é por isso que somos agradáveis. É certo que o «incriado» não se degrada, o que torna o «incriado» desagradável. Gostamos de sentir o cheiro das coisas. A que é que cheira o «Absoluto»? O cheiro é a vizinhança de uma simpatia. A simpatia quando se torna profunda é «ingénuamente» sexual, mesmo que seja a simpatia pela coisa mais inofensiva e doce, ou uma simpatia ébria pelo que está à nossa frente (uma paisagem, etc.) Umas raparigas simpáticas como nós estão disponíveis para a vida nos seus afazeres. Andamos a traduzir Shakespeare como quem faz festinhas a um gato. Traduzimos às vezes do ponto de vista da Ofélia, mas não desdenhamos a pérfida embriaguês da madame Macbeth. Também sabemos ser más durante breves segundos. Mas mesmo que sejamos más mantemos uma doçura (que pode muito bem ser canibal) de fundo. Big Girls Love to Cry. Somos assim: choronas porque nos acode uma alegria de fundo que vem das zonas mais brejeiras dos nossos corpos.

No comments: