Sunday, October 07, 2007

A ALIVIANTE LETRA



Pobres homens que nos invejam os verdes figos, e nos espreitam com candidata aleivosia pelas grades da sua velhaca apetência.

Que nos refresque e revigore em sua diurna sageza, e nos desfaça das mezquinhanças e nos reluza aos olhos daquelas que se desesperam com o oculto nas suas penhas e ladeiras.

Eis que se passou o inverno; e estou mais humana e ferverosa e perfumada e a pele ainda mais suave, ó filhas.

A macieira dá-nos a sabedoria que não abranda.

A moda é a pornografa que transmuda o excesso divino da natureza em sublimes paramentos e silvantes pensamentos.

É não é o lírio maléfico acenando aleivosamente nos campos, para que na sua contemplação nos façamos mais interiormente ardentes e exteriormente ousadas?

Apascenta o teu rebanho de carícias no banquete deleitoso do meu corpo, que tem erva boa e cheirosa e te responderá como excelso esposo.

São os bosques que buscam com sua arregalada e bem tangida harmonia a voz varoa de minha amada.

Desejo resplandecer como ouro. Mas não desejo ser ouro, nem de metalurgias solares. Pois sou como a lua que aparece e desaparece, se mingua e engrandece, se desespera e se alarga.

Pomba minha, que debicas as fendas de meus infernos.

Levou-me a moradas do mal como a uma fremosura, mas como sou sómente uma cerva que serve os matéricos deuses preferi correr para campos mais abertos e não me fechar mais em casas.

Os figos de certas amantes são estercosos pombais a que não irei jamais.

Flor gamo, que me faz chorar de perdurável desejo, flor que se desassenta e corre de encontro a fermosuras maiores.

Dizem que a natureza é confesso esterco, mas quem não escuta as harmonias que se desprendem dos arvoredos é porque não se livra das enegrecentes roupas que obstroem a alma, que se quer ainda mais corpórea e desnuda, quer no espírito, quer na alíviante letra.

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