Sunday, October 21, 2007

Yolanda


A pitonisa está deitada sobre Yolanda. Pasta nas traduções. Abotina-se. Segreda-se. «Sou devorada pelos precepícios de uma história que está sempre a precepitar-se para coisas infâmes. Falta-me aquela dureza dos clérigos quando esgrimem o ad secula seculoram. As coisas sacodem-se de mim, ou em mim. Os destinos alheios parecem primordais porque vêm da terra, com máscaras argilosas. Andam à procura de quem lhes dê alma, ou os faça solitáriamente pastáveis.»


Yolanda recebe o corpo da pitonisa que tem aquele calor frio de serpente. É uma carne com temperatura de climas mais a norte, mas é esguia e envolvente.


Yolanda cresceu em falanstérios. Foi educada na ansia revolucionária. Desconfiou sempre dos que se fazem passar por inocentes. Sabe que amar é ser vulnerável a coisas cornudas. Amou uma líder de um kibutz trinta anos mais velha do que ela e que a trocou por uma rapariga dez anos mais nova. Mas Yolanda gostou dos ventos palestinos, das laranjas espremidas, das noites nas praias comendo gelados de corantes e ouvindo canções da moda. Trabalhou numa tabacaria num centro comercial e viu pessoas agitadas com coisas santas e cheias de vontade explodir.


Yolanda fez-se artista porque tinha vontade. Umas pessoas dizem que é preciso vocação. O que é a vocação? Habilidade? Impaciência? Um bichinho? Uma gravidez poética? No seu caso tinha sido inquietação e percebera que não era difícil dar o tal passo em frente. As cidades convidam a esse papel furioso e supostamente nobre, e o salto é pequeno. É certo que há, para já, imensas tradições que piscam os olhos e querem arrastar-nos para as redes obscuras do passado. Mas Yolanda percebeu que devia começar por ser unilateralmente moderna. Ela via-se como uma «pastora da actualidade», porque o passado é uma coisa que demora o resto da vida a encontrar os fios que já estão estampados nas supostas incongruências do presente.


Uma artista deve ser multipla, disseminada, infernal, corporal, se calhar feminista. Ela tinha estado em Israel, na Palestina, no Egipto. Boiara no mar morto. Subira ao monte Sinai. Banhara-se no rio Jordão. Sentira o odor a eternidade degradada nos bicos pouco bicudos ao perto das pirâmides. Sentara-se em sítios onde o sol é forte e a sombra é nítida. Percebera o papel murmurante das sombras e dos duplos, e das instancias demoniacas das imagens pintadas. E de como tudo isso se combinava com uma guerra onde o mundo teimava em desabroxar com muitos pretextos politicos a passar por religiosos.


Yolanda era a negatividade da negatividade. Uma sombra a projectar-se para pessoa. Revia-se em deuses e deusas com cornos. Como artista sabia que tudo neste mundo é material e mediático, mesmo a mais desgastada solidão. Mas também sabia que a piedade é irmã da orgia, e que é pouca a diferença entre a monja e a ménade. Ela começou por fazer instalações no deserto, com urzes, a ver se estas registavam algum indicio falante de YHVH. Não se percebeu se registavam, ou se as urzes já eram a voz de YHVH sempre que o vento por elas passava, tagarelando num dialecto demasiado divino para ser traduzido. YHVH diz que é mulher, e que a divertem as lutas inuteis dos homens.


Yolanda passeou-se pela europa e deitou-se com muita gente. As pessoas com quem se deitava na europa eram complicadas e estavam mais atentas a uma tensão orbitante do que aos corpos. Sobre os europeus pesa a culpa perpétua de já não poderem ser ferozes, expansionistas, audazes, dominadores, cruéis. Na sua posição de deitada apercebeu-se que a vocação da arte nascia (òbviamente!) nas correntes passionais, e que essa constatação era mais um clichê a que não se podia escapar.


As tradições vão-nos desgastando e corrompendo até entrarmos nelas. A certa altura temos orgulho em fazer parte de mais um cavernoso passado e lavamos os dentes até estes reluzirem num cantinho se possível bem iluminado da história. Esquecemos que um hálito corrupto atravessa as obras e que a museologia e outros afãs legitimadores são exímios em dissimulá-lo.


Yolanda encontrava-se nesse estado horizontal. A pitonisa via-lhe o amor a querer abocanhar as coisas como um bicho apocaliptico com olhos espalhados pelo corpo. Então beijava-lhe a fertilidade vindora e massajava-lhe a lucidez e punha-lhe os dedos nos pontos onde a loucura irradiava um pouco. «Nada nos devora tanto como nós próprios. Há uma beleza cumplice da intiligência e uma outra beleza que conspira assassinamente contra esta». Yolanda acolhia essa guerra bicéfala e não se deixava dilacerar. Ela olhava os pés da pitonia com sofreguidão. Pés negros num corpo leitoso. Pés de fauna abeirando-se de um bosque.


E havia essas pinturas do Vermeer onde a cor é densa e subtil e onde as mulheres parecem levitar sem oráculos. A pitonisa perferia Rubens, o das carnes, da abundância, de onde os impetos do barroco partem para todas as caças.


Foi então a pitonisa acometida de estremecimentos. Yolanda estava quieta. A pitonisa começou a estrabuchar de embriagada, a soltar frases, a rimar destinos, a sentir por dentro do seu corpo as cordas muito esticadas do deus da lira. A pitonisa caíu ainda mais branca, mais fria e ficou-se pelo chão tão impávida. Morta. Uma amiga judia, brasileira, versada em Orixás avisara-a à muito tempo de que o sabor do seu corpo podia ser mortal. Yolanda não se precavera porque desconfiava das chantagens desse tipo de gente.


A inocencia que tanto desprezara tinha-lhe aterrado nesta cena.


Yolanda continuou quieta e imensamente deitada.

Estalo (felix culpa!)


Houvera de enlouquecer dentro do estilo. O «estilo é a minha força» dizia E.B.. Não senhor! O estilo é uma farsa e um disfarse. Costumo acordar já calejada com muito calão a ascender e o estilo dos outros a apertar em volta como uma corda onde já não nos queremos enforcar. Percebemos depressa, quando olhamos os olhos de uma grávida, que a morte está muito mais inclinada sobre elas, e que a húmidade (e a humanidade) é assustadora. E a criança que está vir já começou a assassinar a mãe. Devagarinho.


Arrumamos e limpamos o pó. As sombras vão-se no desarrumo do quarto ou então na impecável e maníaca ordem sob a qual há um orgulho de organizadora.


Desaprovo a minha violência com os seus amaneiramentos e a soberba intelectual de quem se julga dona de uma incomensorável autoria de si mesma. Não descuido assim tanto das minhas maneiras e de certa forma incomodam-me os exemplos de puro aleatório, a famigerada não-autoria e outras canalhices que tanto se propagam. Mas não me sei reduzir a fluxos concentrados de uma forma voluntária. É certo que me repito, como a horrível canção do «apitó comboio». E então tenho uma vontade tremenda de mudar de maneiras, de começar a entender-me a partir de outras palavras periféricas mas idealmente fortes. Não sei se estão a seguir a meada (a miada)?... São os turbilhões verbais que me vêm caçar. Eu só me sento disposta a algum acontecimento ou transe.


E depois não fumo (nunca fumei), nem cigarros, nem drogas, nem esquento as minhas angústias com vinhos ou bebidas licorosas. Estou só ali um pouco ao sol, como quando se bordava qualquer coisa. Mas já não se borda com as mãos que bordaram a Senhora do Licorne - «A mon seul Désir!», Lembrai-vos?


Vieram bater-me à porta. Ou telefonaram-me. Era um inquérito.

- A senhora quer mudar de estilo?

Respondi que mudava de estilo sempre que me apetecia, e que tinha os meus, e que gostava deles, assim, mesmo que meio desconchavados e que não queria outros, mesmo que fossem fantásticos ou novinhos em folha.

- Mas é uma promoção, são vários estilos num só pacote!

Irritou-me o rapaz, não pela promoção, mas porque não me apetecia regatear e também não queria dar um ar de contestatária adolescente supostamente enjoada com o excesso de promoções que nos arruídam as lides e nos tocam à campaínha quando estamos concentradas em raciocínios mais ou menos a puxar para o sublime.

- Também temos estilos para sado-masoquistas, prostitutas, emigrantes, gays, lésbicas e até pessoas normais.

Desliguei. Ou bati com a porta. Ou fui malcriada. Começa a ser um dos poucos modos de sobrevivência, isso da má criação.


Quis voltar ao meu cantinho no mundo, a uma assolarada transe, ao fluído rio de imagens e palavras, às minhas orquideias fixas, ou a outros pastiches florais, sem ares de ikebana ou sem fazer dos meus arrumos uma cabana ikea.


Sabia há muito tempo que o estilo vem por um lado da boa ou má impressão que nos causam certas pessoas, que tanto podem ser mortos gloriosos, com direito a várias colunas em respeitáveis enciclopédias, como de amigos barulhentos ou discretos que nos pomos a admirar em pé de igualdade, ou com uma voraz admiração - aquela de quem lhes quer comer o estilo crocodiletantemente. Por outro lado o estilo vem da mais elementar organização do mundo. Quando gostamos de coisas mais coloridas, ou escuras. Quando preferimos as rectas aos redondos, e por aí adiante - é só refinar as preferências em arremedo de estilista.


Com os anos, o desrespeito pelos mestres vem-se aguçando. Não consigo ouvir música, ler livro, contemplar pintura, ver filme, ou qualquer coisa parecida, sem me pôr a ageitar, a engendrar planos, malévolos ou não, a canibalizar um pouco. Não consigo ficar quieta nem meditativa. Se calhar o socego fazia-me bem. Ou o tricô.


Pastiches? Paródias? Quizás!... Podem ser modos de lamber botas, de venerar mortos e mortos-vivos. Pode até ser uma espécie de religião. Mas quando lemos Shakespeare, compreendemos que o compincha apenas adaptava histórias e se libertava caricaturalmente ao entrar pasticheiramente na lógica interna de determinados caracteres. A comichão gritante da retórica gestual que se apropria como um espectro do actor é parte dos atributos canibais e teatrais do Absoluto. Ou de Deus, se Deus se adaptar barbudamente ao papel de regente, administrador ou empresário dessa coisa.


É certo que à força de repetirmos frases fortes estas cansam. Parece que estamos a despedirmo-nos delas mas que nunca mais vão embora. Procuramos redimirmo-nos desse assombro com a chacota, ou a desculpa, ou por um artificial jogo de apego/desapego ao que nos atraí para coisas fortes ou brejeiras. Somos muitíssimo complicadas e omnívoras e gostamos de o ser ao contrário de tanta gente simples traumatizada com a sua simplicidade.


Mas depois sucede o pior. É aquela fase em que nos admiramos um pouco, em que temos nostalgias dos velhos pastiches, das sedutoras paródicas. Então damos conosco a auto-canibalizar-nos sem sequer sermos autofágicas, porque o que estamos a devorar já não é bem o nós mesmas. Pastiche de pastiche. Paródia de paródia. E a puxar os galões ao recuerdo, mas em acelerada produtividade.


Outras vezes o estilo é um combate com o passado - elisão, no caso de aspirarmos ao classicismo, ao criterioso gosto de quem faz edições e distingue com censor rigor o melhor no meio da prolixidade; ou achincalhamento, no não querer dar a ver as boas vontades, a inocência patética e poética de quem andava à procura de bem cavalgar numa pedinte arte poética.


E também há o mito, com muitos cornos, da louca inocência das crianças, quando as crianças são apenas pobres, intensas e maravilhadas, no seu vocabulário e organização, máquina pouco ginasticada que por vezes surpreendem com belíssimas metáforas. As crianças gritam, mas não entram na eternidade. E sobretudo não enlouquecem quando passam para essa chinfrineira estúpida que é a adolescência, com a pele borbulhosa e a sexualidade sempre embaraçada e a dar ares violentos de querer arvorar uma beleza (ou feieza) que pode conquistar definitivamente o mundo. Mas para quê?...


Depois chega, dizem alguns, aquela idade desiludida de quem já somou estalos. Pode-se ter estilo («um estilo ofendido»), ou deixar de ter estilo. Ambas as hipóteses são negras, e eu, desconsoladamente, ainda não cheguei lá. Vejo alguns adiantados a desembaraçarem-se de tudo o que acumularam e a prepararem-se despojadamente para a morte. Despedem-se do saber e da autoria. Tornam-se mais lentos. Deixam de comunicar e lembram-se dos amigos, sobretudo dos que já cá não estão, porque os outros são uns chatos, e mais chatos e incómodos os jovens e aduladores. Acaba por ser outro estilo, de parágrafos menos enredados, provávelmente com menos virgulas. Um estilo que não se importa com ser estupido, ou desmodado e que não consola - acontece. E nalguns «acontece» com um vigor que supera o maravilhamento das crianças. É uma inocência ao contrário. Tantas culpas felizes!

Tuesday, October 16, 2007

obras de Rosa Herberta Vasconcellos Davida (exemplos)


a obra da nossa amiguinha divide-se actualmente em dois volumes, o poema-cantina e a restaurante prosa


no primeiro caso temos atribulados titulos como:


Um Lagar em Vista

A mulher na bica

Afectos cortantes

A laca ilírica

Animação vocacional

Cabra

A porca, a lixa, as ovas

A devoradora diurna (di-versões)


no segundo


A aposentação dos restos

Pássaras que voltam

Passerelle e fado


Do índice de um livro como A Aposentação dos Restos temos titulos como dos quais daremos publicação



  1. Estalo

  2. Yolanda

  3. Só Nós

  4. Politicas

  5. A ingrata

  6. As concubinas que vão para Antioquia

  7. Largar, lograr

  8. Com Ela canto

  9. Escadeados e formas físicas

  10. Danças de pulos

  11. A cobrança

  12. Aquilo que doi na vida

  13. Como se vem em Acapulco

  14. Trema

  15. Gatas, Aviadoras

  16. Equitação

  17. A enésima


Sunday, October 07, 2007

A ALIVIANTE LETRA



Pobres homens que nos invejam os verdes figos, e nos espreitam com candidata aleivosia pelas grades da sua velhaca apetência.

Que nos refresque e revigore em sua diurna sageza, e nos desfaça das mezquinhanças e nos reluza aos olhos daquelas que se desesperam com o oculto nas suas penhas e ladeiras.

Eis que se passou o inverno; e estou mais humana e ferverosa e perfumada e a pele ainda mais suave, ó filhas.

A macieira dá-nos a sabedoria que não abranda.

A moda é a pornografa que transmuda o excesso divino da natureza em sublimes paramentos e silvantes pensamentos.

É não é o lírio maléfico acenando aleivosamente nos campos, para que na sua contemplação nos façamos mais interiormente ardentes e exteriormente ousadas?

Apascenta o teu rebanho de carícias no banquete deleitoso do meu corpo, que tem erva boa e cheirosa e te responderá como excelso esposo.

São os bosques que buscam com sua arregalada e bem tangida harmonia a voz varoa de minha amada.

Desejo resplandecer como ouro. Mas não desejo ser ouro, nem de metalurgias solares. Pois sou como a lua que aparece e desaparece, se mingua e engrandece, se desespera e se alarga.

Pomba minha, que debicas as fendas de meus infernos.

Levou-me a moradas do mal como a uma fremosura, mas como sou sómente uma cerva que serve os matéricos deuses preferi correr para campos mais abertos e não me fechar mais em casas.

Os figos de certas amantes são estercosos pombais a que não irei jamais.

Flor gamo, que me faz chorar de perdurável desejo, flor que se desassenta e corre de encontro a fermosuras maiores.

Dizem que a natureza é confesso esterco, mas quem não escuta as harmonias que se desprendem dos arvoredos é porque não se livra das enegrecentes roupas que obstroem a alma, que se quer ainda mais corpórea e desnuda, quer no espírito, quer na alíviante letra.

Friday, October 05, 2007

AS VINHAS DA HORA





Às senhoras muito presentes, para usar comigo em meu paladar.

Ela levou-me às suas vinhas e eu abri-lhe o meu lagar.

Ela vem saltando sobre os montes, pulando como uma donzela a fazer-se cabrita, e por onde passa deixa o seu aroma, como uma chuva de flechas amorosas.

Levanta-te, meu amor, formosa ninfa minha, monstra risonha – os deuses despem-se para te ver, e os teus passos fazem o mundo mais amável.

Coroas os aspectos do que te envolve e os olhos daqueles que se gastam em gostanças, e despachas a mezquinhês e há vides em flor e as gazelas e as cervas do campo esticam-se no teatro absoluto da natura.

A minha amada é a minha amada por entre os braços dos bosques que a apertam e quase estrangulam embora seja uma flor abraçável só em delicadeza.

Conjuro-vos, ó filhas especiosas, tal é minha amada por entre as ninfas que conduzem os homens a desesperantes ravinas.

Errom como zebras feridas pelos becos e cais da moda.

Sabes por certo que aí é o bosque, e aí desaperta-se o meu amor, e até da rola se ouvem os gemidos suaves do acasalamento, e sentimos que esta é a nossa terra, onde as forças se retemperam no se desperdiçarem.

Aparecem as flores fendendo a sombra, e debaixo dela me assento mui corpórea e te aguardo com olhos de veada.

Leva-me de casa aos indómitos banquetes, mesmo que nestes se digam ausentes as iguarias, leva-me porque me banqueteie de ir só contigo.

Possa a natureza ajudar os frutos a adoçarem-se em meu paladar. E és suave quande se te acercam as loiças, e os talheres te roçam os lábios e eu me gostaria de ser a sopa que tu provas sem hesitações.

A minha amada é minha, e vem-se.

Erro pela mundanal ordem das excepções.

Pecados verdes, mundo de pelos, estábulo de deuses.


Pomba minha que com as mãos me vestes de um pudor que superlativamente se desfaz.

E debaixo dela me assento, ante olhos velozes e sob os ardentes montes do meu amor.

Formosa minha, vem, faze-te semelhante às cervas do campo desenrolando-te na cama dos arbustos e ainda mais selvagem sobre a minha floresta.

Não acordes com mãos secas. Humedece-me e a aparelha e apruma o teu instrumento afinando-me para as tuas instruções silenciosas.

CESÁRIA, A CORSÁRIA




Reluz, viscosamente, o rio. Hotéis contemplam os nativos e recontam a glória graças às mais femininas potências & também contemplam as fremusuras das outras namoradas. Vão como nenhumas, bem proporcionadas, pelos tapetes mundanos das sábias carnes!



Daqui por favor profano aperfeiçoei afeiçoadamente a cúspide da gloria e com estas deleitações (porque eu o entendo e o confesso da minha mui finita misericórdia) não deixo as coisas desanimarem com os trabalhos da carne para que me nasci. Todos os males me ajudam a dar graças aos assenhoramentos do corpo. Todo siso também. Ca os nossos passos, que aparelham o senhor corpo (ou a senhora carne) e aaqueles outros, também estultecem, no tanto se ousarem e usarem.

Entendo e confesso que o ânimo deles toma aos homens o poder, o que é motivo de motivos de não desanimarem com as ganas floridas da natureza humana, que esta ajuda ao extase. Que estes nom som feitos com deleitações sem proveito e assai parecemos dignos e mais dignos e merecedores de emoções retumbantes que podem devir nas florestas fluídas das naturas.

Porque não há nenhumas reticências que refreiem as caças amorosas, nem casas sonoras feitas com mãos alheias, e delas as forças e o ânimo e a mezquindade reverbam ante os olhos da moda e o Verbo aparentado do que se encarna.

Sabe por certo a sabor de favor amoroso, e por outro lado ao daqueles que gostarom da dulçura dos caules vigorosos, com o tinido de louças ajudando a furores musicalmente profanos.

Caímos imundas num estilo cuja híbridez nos desafora!

Daqui vamos por um ir com os que gostarom a dulçura dos bens riancheiros, motéis da moda onde podemos com que quiseramos dormir anos inteiros.

Nossos paaços, resplandecentes como ouro, e feitos com os espiritos exuberantes, coroam em esta falsa gloria, em que nos leixamos estendidos com a pele a seduzir a inclemente luz solar.

E com trabalhos ainda que duvidosos da vida vamo-nos nas andanças neste mundo e pensamos que avemos talheres para petiscar a glória.



Flamejam e reluzem as viscosas fremusuras das moradas da carne.

Os deuses tremem per aaqueles que os amam. E é por isso que saam grandes.



Em caminhada nos amam. E, assi com suas blandezas e dulçuras grandes e lúbrica misericórdia. Apesar de todos os vícios que sacodem a vida.







Semelham-se a gaiolas, ao esterco, aos olhos daqueles que nesta vida agitam as canseiras. Fazem-nos creer que sejamos sarcásticos sandeus, bem assi e muito asnos e alquímicos como ouro, e as nossas vestiduras simbólicas, de gregos vermelhos leões.

Deuses embriagantes podeis usar comigo das louças e dos talheres com fúria devoradora.



Flamejam e reluzem como ouro as nossas vestiduras, que andamos neste mundo e pensamos nele e nascemos novamente para todos os males embora não no possa a natureza fedorenta. E mais divina parece a dulçura que grande empequenece.



Vão em tremores os deuses e aaqueles que os amam.



Apesar deles me nasceram todos os males com estas aproveitáveis deleitações, como todolos seres dos arredores para uma glória inda mais intensa.

Não desanimem os que sobrepojam todo siso nem os que molham seu aparelho nos rios vinhosos do riso.

Ca aqueles que contemplam as fremusuras me ajudem a dar graças aos vaidopsos prados, aos chinfrinosos tinidos de louças e e às vestiduras feitas com as musas das modas.

Veste as mais fulminantes vestiduras, nobres e fremosas, mais excessivas que as deleitações sem proveito. Veste-as como um poder escorreito de ganas descritivas!

Com estas carnes apuradas e saltitantes parecemos viscosas, mas temos o coraçom puro e vazio e brilhante.

O rio apressa as obreiras, o visco socega os ociosos.

Como estes pobres omëes perecem muito mais que nós, embora vagarosamente verdes no seu sexo badalante!

Pois andamos perduravees com enganos e com os omëes que se pulam no criancismo: é coisa que amadurece como um escarnho azul nas nossas sentenças destemperadas.

Aqueles que contemplam as fremusuras fazem-se fremosos como as modas mais extremadas da natura.



Camas afáveis por favor divino, e por outro esse favor vindo da terra que te contempla como fremusuras habitável, como moda tangível e mensageira, e silva de choros e de tristezas vestidas e de alegrias desnudas. Causas nobres e fremosas? Ou mais fedorentas que lagrimas e mais perversas que choros, e mais feas que ceo tempestuoso? Que nom som feitas com mais do que nós, que andamos neste mundo a dar graças aos deuses de alto brilho, mas participamos na sua comédia comedida e lhes oferecemos em sacrificio o espetáculo da plenitude por muito que pareçam as coisas seeram conrompidas.

O sabor sábio do desfavor.



Caminha, cisma e olha. E assim correrá muito bem. As congratulações finais. A mulher que já não sua na brus­quidão de se apossar dos utensilios domésticos mas que se deita na imensidão do presente.

Algo lhes enformava as vidas & a gola do sobretudo e as não vidas num sem sobres­salto, num sobretudo alto: sem a afabilidade gelada dos canos no inverno desliza pelo interior algo escorreito e inquietante e dizem que é seguro e sereno. Não lhe posso tomar o peito a peito. Não lhe posso pôr os cornos em redor.

Enfias a cara na água como se lhe quisesses pertencer e mergulhas com ela a mão. Cada um e o tudo num sem sobres­salto: sem afabilidade há passagens de mão a mão. De carácter a carácter.

Cada espelho sem destemperos nos ama.

Sem favor, apaixonada, em todos passos que não se ouvem, ela chega como uma dama inusitada e branca. Não ama a convivialidade e convida à delação. De madru­gada torna-se mais àspera e esguia.

Estava uma noite quente e havia um bafo a acompanhar-lhe o ar sem aragem. Na alma, um mínimo limpava os excessos e os restos. Os outros impacientavam-na, e ela se ria, lembrando-se da mulher que saíra da mais terrena terra. Como é ainda afivelada a teorias antigas! O seu sangue sobe aos convés das almas.



Sabes o que fazer? Reconhece, nas vibrissas, os momentos peludos que têm asas. Queima os cadernos de encargos. Reduz-te exactamente.

Uma carreira temível, estimavel, informada a medos.

E ele, onde chegara, chegara sem chuva. Levantou-se para os que ouviam. Não há vivalma, ouve-se menos através daquela gente. Para aparar a noite como uma sebe estrelada.

Escolhidas pelo que têm, não pelo que o espelho da emanação dá a espelhar.

O espelho enche a concha a medo, arredia-se à convivialidade e não dá ouvidos.

Não há amigos desfavorecidos pelos anos, só amigas desvirgindadas pelo ânus.

Da terra, como sumptuários já arrumados mais alto em lugares públicos, passeando, fixa a cara.

Um rubor de pedra sobe às espáduas. Olha-se, vê-se. Aquela gente a impavidar-se numa vidência àspera. Ao seu sinal os bafos acompanham-lhe a serenidade do olhar. Na boca arremeda-o um esgar, como uma flor vibrátil dessa espécie negra, dessa variante obscura.

O homem-esgar tenta reaver a lassidão da pele num sem sobres­salto.

Sem afabilidade sente a testa de ferro: à disposição, como fáceis folhas cadentes.

Assim que pensa, pondera, pendura, convida a acompanharem-lhe a cabeça.

Passa a limpo notas e rabiscos, como se o dia estivesse acabado. Próxima desatenção: as guias finas brilham aus­cultando o sereno aspecto que lhe convem.



Punhos aos pulsos. Punhetas às pulsões. O arrepio das vidas num sem sobres­salto: mutismo.

A noite exactamente nocturna, sem a farsa burguesa da luz elétrica. Uma carreira temível, esco­lhida, satisfeita consigo, conivente com ela até à medula ia-se numa despedida pouco amorosa.

Conseguir, era resultar nela o que vibra, ferver o frio e o cauto numa alquimia carnavalesca. Igual sempre que for dessa espécie, dessa variante. Era a brus­quidão que lhe enformava a soltura.

A avaliação demitia os aspectos, consigo, a sós, em conivencia com o afecto coarctado. Temido e solto. Não fez som, mas sobres­salto: sem afabilidade e sem destemperos. Sem gente pastável para seguir de cada um o tudo e o nunca que quisera ter. Objec­tos que afivelavam presenças.

O sangue sobe ao estímulo, colocando as fei­ções pelo seu registo. Aprendera a ser solta. A avaliação era um bem naquele rosto que estímulava o frio. Rebuçava em anos. Da terra, como o lajedo do grande átrio aberto, dos punhos aos pulsos, so sexo à lingua.

O arrepio tinham-se alevantado, com apetrechos sumptuários e rabiscos, com o timbre sem chuva.

Levantou a gola do sobretudo e de tudo o que afagava o seu registo. Aguentou-se afugentando sentidos únivocos.

Aprendera, no risco, e não dera fraqueza.

Quando se apropria sem noticiar-se, a noite reverbera-se sem chegar a porquês. Amargam-se as variantes mais amáveis. Os agradecidos da sua brus­quidão, que lhes enformava o que fazer multiplicam-se para si.

Reconheceu, tinha vida própria sem noticiar-se, de águas frias e tintas fluídas. Passou à próxima intriga, aos vapores da cobiça e aos pós do cinzel. Nada mudou, não consumira ninguém num fogo azedo de azoto. Há muito de afazeres, com ou sem destemperos. Sem favor, nem desfavor. Porquê, o afecto, todo ao longe?



A reunião correra bem. Mas dava-se um ar sem aragem. Aprendera, há muito, com o lúgubre. Deixara os deveres oficinais para seguir as caminhadas da noite. A bela afeição a uma torre que sai do solo. Como a noite estava de uma grande frialdade (ao menos para aquela gente) ela sentia-se um vulcão oracular.

É assim que ela pensa, pondera, vê, aguardando a esferográfica sibilina posta a dançar uma coreografia muluscolar.

Os afectos invectivam a novos finais. A repugnância senhoreia.

Diante do passagens de mão arrastava partes da cara. Cada invectiva era um resolver contra alguém. E soer­guia-se na sarjeta próxima. Segurando a serenidade.



Em momentos de risco, não dava fraqueza. Desejo de alargar a alma, no mínimo. Uma guinada na memória afastava-a e deslizava-a pelo interior dos punhos da intriga.

A reunião da cobiça e da intriga apaixonada em exímios passos não se basta a acompanhar-lhe a cabeça.



Os ombros, arremeda-os com esses olhos de balneários, de sanitários de liceu e pele enxuta. Penteia-se, acha-se bem naquele rosto anatómicamente de Gray ao invés. Lição de impassibilidade e mutismo.



Como se ria? Lembrando-se onde guar­dara a esferográfica. Lei da selva? Exactamente.

O trabalho não era conseguir, era resultar, e comungar com uma donzela puxando-lhe as rédeas soltas. Reti­rava, sem desejo as ofegações do peito e afastava-se do espelho.

Da emanação dos balneários, dos sanitários sem afabilidade e sem destemperos viera-lhe a canibalidade. Sem favor, sem chuva. Levantou a gola das intrigas alheias e sentiu uma outra coleira.

Um rubor de pedra subiu-nos à paixão. Ao menos para aquela gente um sermão é um sermão. A sua marca fazia enormes as mulheres. Para todo lado iam satisfeitas consigo, coniventes com ela. Estava inacabada. Ao menos para os escalões. Aquela gente não tinha vida porque a quisera ter tão depressa.

Objec­tos que não da memória afastam-na do espelho com sagacidade.

Da terra. Da terra, dissera-lhe o amigo. Um rubor de pedra nos malares. Tinham-se levantado em segun­dos para aparar a noite. A noite estava guarnecida de esferográficas.

Aragem. Retoma o o alívio. A reunião dá medo, arremeda a convivialidade e dá folga à terra. Da figura no espelho funcionários menores levantaram-se afivelados. O sangue sabia ao estímulo dos passos que não se ouvem. Não encolhe os ombros, arremeda-se num esgar satisfeito consigo.

Conivente com eles até ao risco, não dá a cara à decifração porque não tem decifração possível .

Ainda há virgens nas notas e rabiscos, como reconhece finalmente.

Objec­tos fitam o lajedo do grande átrio sem destemperos.



Sem favor, num esgar a reaver antigas doçuras dissera-lhe o amigo «há tantas esferográficas postas à disposição, as duns e as dos outros, e a sua». A do frio? Remoça em segun­dos para aparar a gola do disposição... As folhas não o confirmam.

As quatro virgens de cobiça e da intriga apaixonam em escalões. Aquela gente não tinha vida.
É grande avondança em esta falsa gloria da moda.



Sabe a vida aqueles que contemplam e recontam e voltam a contemplaR as fremusuras das moradas dos motivos.

As forças e o ânimo apressam-se ou apresam-se.

As obreiras nas oficinas descontam a gloria perduravel e a sua face graciosa.

Monday, October 01, 2007

o surrealismo depois da morte


pusemo-nos a mirar com olhos de ver o L'Age D'Or do Buñuel e demo-nos conta de que o surrealismo já morreu há muito e que era uma coisa escura e doente e que o surrealismo é o depois da morte e o Cezariny também morreu sem que ficássemos a lacrimejar e deixou a massa à Casa Pia que não precisa mesmo dela e os filmes falta-lhes um surrealismo honesto porque hoje é dificil fazer filmes que não sejam pretenciosos e falta-lhes a qualidade poética para além dessa lagrima ao canto do olho que vem dos lamechismos neo-neo-realistas tão disfarsadotes que é um escape ai é ao excesso de intencionalides ou à pseudo-experimental ida às landes do não-intencional mas adorariamos que a coisa não caísse no kitsch e pronto vamos fazer ó-ó as duínhas