Tuesday, November 07, 2006

antonieta, maria



Uma de nós tinha uma tia antonieta (também maria) - une tante antoinete, c'est coquete! (soa bem em franciu). Fomos ver a Maria Antonieta da Sofia Copolla - como muita gente que anda por aí. Gostamos mas ficamos com fome. Fome de alguma maldade, de um pouco mais de pó-fe-arroz, de desgraças,de escarafunchosa personalidade... como nós. Ingénua seria a Antonieta? Um pouco. Quem não é? Tudo o que é rocaille pede sempre um pouco mais efevrescência e consciência libertina, mesmo que não caia nas saias e saiotes do sexo mais visível (o invisível é setecentisticamente omnipresente em tudo o que é marcadamente da época!). Ficamos com uma sensação de incompletude, digna da inocência da revista Maria. Mas em cadela chique!

cuidar do singular


Dizia o Averrois que Deus ignora o singular (ou as singularidades) - o que é estranho no minimo. Afirmação nas antípodas da afirmação de Flaubert (citada também a propósito de outros gloriosos nomes) que com uma metáfora saída da alfaiataria escreveu que Dieu est dans le bon détail. Ah, gloriosas e divinas singularidades que nos justificam e que nos levam às compras em busca dos divinos detalhes (à um entusiasmo, demente e religioso na ansiedade que nos leva a essa caçada femenina, a essa embriaguez consumista). Se seguissemos Averrois desacreditariamos não só a mesericórdia de Deus (finita, infinita, moderada ou justa), quanto a infusão divina (ou não) que nos faz querer ser cada vez mais carne, extremada imanência - To see the world in a grain of sand dizia Blake. Mas não é só ver, é viver cada grão como grão, sem palermices esteticistas. Desfrutar (e quiça registar) os bons detalhes como a Sei Shônagon. É claro que sobra muito mais do que essa escrutinação, contemplativa, desfrutadora ou mesmo desgastadora - também há transes que nos atiram para fora e nos fazem ignorar, por momentos, o singular. Mas estamos longe de ser divindades com pretensões mesericordiosas.